segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Miles Davis, o gênio do jazz


Há exatos 18 anos, morria o trumpetista e compositor norte-americano, Miles Dewey Davis Jr. Considerado um dos mais influentes músicos do século XX, Davis esteve na vanguarda de quase todos os desenvolvimentos do jazz desde a Segunda Guerra Mundial até a década de 1990. Ele participou de várias gravações do bebop e das primeiras gravações do cool jazz. Foi parte do desenvolvimento do jazz modal, e também do jazz fusion que originou-se do trabalho dele com outros músicos no final da década de 1960 e no começo da década de 1970.

Miles Davis nasceu em uma família relativamente rica em Alton, no estado de Illinois. Seu pai, Dr. Miles Davis II era dentista e, em 1927, sua família se mudou para East St. Louis. Eles também ganharam uma importante fazenda no norte do Arkansas, onde Miles aprendeu a andar a cavalo. A mãe de Davis, Cleota Mae (Henry) Davis, queria que seu filho aprendesse a tocar piano - ela era uma hábil pianista de blues, mas manteve isso escondido de seu filho. Os estudos musicais de Miles começaram aos treze anos, quando seu pai lhe deu um trompete novo e providenciou algumas aulas com um trompetista local, Elwood Buchanan.

Em 1944, Davis mudou-se para Nova York para conseguir uma bolsa de estudos na Juilliard School, mas ao invés disso ele decidiu procurar a banda de Charlie Parker. Suas primeiras gravações foram feitas em 1945 com o cantor de blues "Rubberlegs" Williams e o sax-tenorista Herby Fields, no outono ele se tornou um membro não-oficial do quinteto de Parker, aparecendo em várias gravações iniciais do bebop para os selos Savoy Records e Dial Records.

Em 1955, Davis dá vida a seu primeiro Miles Davis Quintet. Este grupo apresentava John Coltrane (saxofone tenor), Red Garland (piano), Paul Chambers (contrabaixo) e Philly Joe Jones (bateria). Evitando a complexidade rítmica e harmônica do então prevalecente bebop, Davis se permitiu a tocar longamente, em legato, essencialmente em linhas melódicas em que ele começaria a explorar o jazz modal. Nessa época, Davis foi influenciado pelo pianista Ahmad Jamal, que contrastava seu som esparso com o "atarefado" som do bebop. O quinteto nunca foi estável entretanto, com muitos dos integrantes usando heroína e o Miles Davis Quintet acabou em 1957.


Em Março e Abril de 1959, Davis voltou mais uma vez com seu sexteto para gravar o que seria considerada sua magnum opus, Kind of Blue. Ele chamou Bill Evans (que estava ainda a meses de formar seu famoso trio), para as sessões do álbum da maneira que haviam planejado acerca do método de piano de Evans. Ambos, Davis e Evans, tiveram uma familiaridade direta com as idéias do pianista George Russell, a respeito do modal jazz o qual fazia experimentos naquela época. Davis pelas idéias expostas com Russell e outros, antes do que viria a se tornar as sessões do álbum Birth of Cool, e Evans por estudar com Russel em 1956.


"So What" e "All Blues" foram tocadas pelo sexteto em performances antes das sessões de gravação, mas para as outras três composições, Davis e Evans preparam uma estrutura harmônica que os outros músicos viram somente no dia da gravação, a fim de criar uma aproximação de improvisação. O álbum resultante provou ser uma enorme influência para outros músicos. Miles não informou ao pianista Wynton Kelly sobre Evans nas gravações, consequentemente Kelly tocou apenas na faixa "Freddie Freeloader", e não esteve presente nas gravações em abril.


Na época do álbum E.S.P de 1965, a formação do grupo de Miles Davis consistia em Wayne Shorter no saxofone, Herbie Hancock no piano, Ron Carter no baixo e Tony Williams na bateria. Esta formação, a última formação acústica dele, é geralmente conhecida como "The Second Great Quintet". Sessões de duas noites em Chicago no final de 65 foram capturadas no álbum The Complete Live at The Plugged Nickel 1965, lançado em 1995. Ao contrário dos álbuns de estúdio do grupo, a apresentação ao vivo mostrava o grupo ainda tocando standards e bebops.


As influências de Miles Davis no final da década de 1960 incluíam o acid rock e artistas funk como Sly and the Family Stone, James Brown e Jimi Hendrix, muitos dos quais se conheceram através de Betty Mabry, uma jovem modelo e letrista que Miles se casou em 1968 e se separaria um ano depois. A transição musical requereu que Davis e seu grupo se adaptassem aos instrumentos elétricos, tanto em estúdio quanto performances ao vivo.


Em 1970, Davis contribuiu para a trilha sonora de um documentário sobre o boxeador afro-americano Jack Johnson. Ele próprio um fanático por boxe. Davis traçou um paralelo entre Johnson, cuja carreira foi marcada pela infrutífera busca por uma "grande esperança branca" para destroná-lo, e a sua própria carreira, na qual ele sentiu que a acomodação o privou de receber o reconhecimento e as recompensas de que lhe eram devidas. O álbum resultante, A Tribute to Jack Johnson de 1971, contém duas longas faixas que utilizou músicos (alguns até não creditados no álbum) incluíndo os guitarristas John McLaughlin e Sonny Sharrock, Herbie Hancock em um órgão Farfisa estragado e o baterista Billy Cobham.


Em 1979, Miles tinha voltado seu relacionamento com a atriz Cicely Tyson. Com Tyson, Davis iria superar seu vício com as drogas e recuperar seu entusiasmo pela música. Como ele tinha parado de tocar trompete há quase três anos, recuperar sua embocadura no instrumento provou ser particularmente árduo para ele. Enquanto gravava The Man with the Horn (foram sessões separadas esporadicamente entre 1979 a 1981), Miles tocou seu trompete na maior parte com wah-wah, com um jovem e grande grupo. Ele se casou com Tyson em 1981 e se divorciariam em 1988.


No começo de 1991, ele assistiu ao lançamento do filme de Rolf de Heer, Dingo. Estrelando Colin Friels como um frustrado trompetista de jazz da Austrália que vai em busca de seu sonho de encontrar e tocar com Billy Cross, uma lenda do jazz fictícia interpretada por Miles Davis. Na seqüência de abertura do filme, Davis e sua banda inesperadamente vão parar em uma remoto deserto da Austrália e começam a tocar para os habitantes desse local. A apresentação incentiva o personagem principal (Colin Friels) a ir em busca de seu sonho. Foi uma das últimas performances filmadas de Davis. Miles Davis faleceu em 28 de Setembro de 1991 de AVC, pneumonia e insuficiência respiratória em Santa Mônica, Califórnia com 65 anos. Ele foi enterrado no Woodlawn Cemetery, no Bronx, Nova York.


Abaixo uma faixa do último álbum de Miles Davis, chamado Doo Bop, lançado postumamente em 1991.


Fonte: Wikipedia


quinta-feira, 24 de setembro de 2009

PP: Partido Pirata

Entrevista com STEFAN URBAT

Na Alemanha, ativistas disputam o poder defendendo causas como o download livre e a transparência



Urbat, 44, que diz ser um dos mais velhos no Piratepartei
por AMANDA DEMETRIO

Stefan Urbat tem 44 anos e se diz um dos mais velhos do seu partido, o Partido Pirata alemão. Mesmo "velho", passou horas de pé, diante de uma bandeira do partido, conversando com seus eleitores em uma grande praça da cidade de Stuttgart, na Alemanha.

Falando de ideias como download livre e privacidade, ele defende sua candidatura ao Parlamento na Alemanha -as eleições ocorrem no dia 27. É a primeira vez que o Piratenpartei (nome do partido, em alemão) participa do pleito. As eleições na Alemanha funcionam com um sistema misto. São dois votos: um no candidato e um na legenda. Assim, 299 candidatos são escolhidos de maneira direta e as outras 299 vagas ficam para os partidos.
Existe ainda uma regra que limita a participação de partidos muito pequenos: qualquer legenda só obtém representação se tiver um mínimo de 5% dos votos em partidos.Após um encontro rápido com a reportagem de Folha em Stuttgart, Urbat preferiu falar por e-mail sobre seus planos para o Parlamento alemão e o crescimento do seu partido.

FOLHA – Quais são as suas reais chances de ganhar?

STEFAN URBAT – Existe uma chance pequena, mas real, de nós conseguirmos os 5%. Temos cerca de 6% ou 8% de pessoas que nos dariam seu voto, mas esse resultado pode variar de 1% a 12%. No meu Estado, Baden-Württemberg, somos um total de seis candidatos. Estou concorrendo como candidato e pela lista.

FOLHA – Se você ganhar, o que pretende fazer no Parlamento alemão?

URBAT – Isso depende da entrada em alguma aliança. Nós queremos melhorar os direitos fundamentais dos nossos cidadãos e cancelar muitas leis de vigilância já em vigência. O que queremos cancelar primeiro é a retenção de dados forçada da União Europeia, junto com a censura à internet e a vigilância dos computadores privados.

FOLHA – Na carta de declaração do partido pirata, vocês defendem o compartilhamento da produção cultural. O que pensam dos direitos dos produtores?

URBAT – Os produtores deveriam ser mais justos: eles podem ser apoiados pelo Estado ou viver com outros modelos de pagamento, como o Jamendo (http://www.jamendo.com/). Lá, todas as músicas podem ser baixadas gratuitamente (sob a licença Creative Commons) e é fácil para quem baixa fazer doações aos artistas, se quiser.

FOLHA – Vocês também dizem ser contra as câmeras na cidade. Como acham que os problemas de segurança devem ser resolvidos?

URBAT – Existe uma demanda por mais policiais. Eles podem enxergar problemas em potencial e ser mais ativos quando reconhecerem algo de errado, ao contrário das câmeras.
FOLHA – Qual é o seu ideal de transparência no governo?

URBAT – Todas as decisões do Estado têm que ser tornadas públicas. Tem que ser possível obter informações sobre as leis, que, por sua vez, têm que ser criadas da melhor maneira para ajudar nesse propósito.
FOLHA – Você usa o Twitter para espalhar suas ações?

URBAT – Sim [www.twitter.com/stefan_urbat], alguns piratas mais ativos usam o site, e nós também o usamos para divulgar o partido.
FOLHA – Como vocês enxergam a internet?

URBAT – A internet tem a vantagem de poder ser colaborativa de uma maneira rápida e estruturada.Todos, até os que não são do partido, podem participar do nosso site colaborativo (wiki.piratenpartei.de).

FOLHA – O Partido Pirata alemão cresceu consideravelmente nos últimos anos. Como foi sua trajetória?

URBAT – Quando o partido foi fundado, em setembro de 2006, eram 50 membros. Ainda no mesmo mês, o número de membros aumentou para 200, incluindo eu. E o número foi crescendo. Após a eleição dos suecos no Parlamento europeu, tudo mudou. Nas semanas seguintes, nos tornamos cerca de 2.700 e temos cem novos membros todas as semanas. A eleição alemã está chegando e pode trazer outra expansão. De qualquer jeito, já somos o maior partido alemão ainda sem representação no Parlamento.

FOLHA – Quais são os maiores problemas que você vê no seu partido?

URBAT – O crescimento rápido nos últimos meses demandou uma capacidade de organização, e temos que ter mais estrutura em cada região para dar conta disso. Nós também precisamos aumentar o programa do partido nas próximas eleições, para possibilitar possíveis parcerias no Parlamento. E, é claro, nossos eleitores merecem saber mais dos nossos planos, além do que já foi dito.
FOLHA – Como você disse, neste ano, o Partido Pirata da Suécia conseguiu uma cadeira no Parlamento europeu [instituição da União Europeia]. O que isso significou?

URBAT – Isso foi um grande sucesso de duas maneiras: foi uma excelente divulgação para nós e permitiu que o movimento do partido pirata fosse ouvido na Europa e dentro do próprio Parlamento europeu. Essa instituição tomou algumas decisões de vigilância e aumento dos direitos autorais no passado. Agora, nós podemos ir contra esses ataques de dentro. Christian Engström [membro do Partido Pirata que está no Parlamento europeu] fala agora com os outros membros de igual para igual.
No Brasil, grupo existe há dois anos

No Brasil, os piratas já existem como "coletivo" (como eles gostam de falar) desde 2007, quando um fórum on-line sobre o assunto foi ao ar, permitindo o encontro de interessados. Hoje, o Partido Pirata tenta se oficializar para as eleições de 2012.

De acordo com o sociólogo Jorge Machado, membro do partido, já são mais de mil militantes em todo o país. No site (http://www.partido-pirata.org/) -que traz os dizeres "sem copyright", ou seja, tudo o que está ali pode ser reproduzido-, os membros do partido publicam tudo o que foi discutido e decidido coletivamente. "É mais demorado, mas é mais democrático", diz o sociólogo.

Mas a oficialização do partido deve ter vários obstáculos. Segundo Jorge, o primeiro passo é registrar o partido. Isso será feito após a convenção nacional dos membros, que ocorre nos próximos meses. Feito isso, eles precisarão de 500 mil assinaturas, feitas com papel e caneta, pela lei atual.

Diante disso, Jorge diz que eles pensam em pedir ao Tribunal Eleitoral que as assinaturas sejam digitais -mas as decisões anteriores do tribunal nesse assunto não animam.Além de tudo, o partido não quer ser visto como uma instituição partidária tradicional. Eles dizem não querer ser vistos como partido "burocrática, hierárquica e vertical", segundo o site.

Também existia o problema de a oficialização não ser um consenso entre os membros. Mas o sociólogo conta que uma "organização irmã" será fundada para dar voz aos que são contra esse movimento.No Brasil, o partido tem diferenciais em relação ao resto do mundo, "porque não somos nenhuma Suécia". Jorge conta que além de defender questões como a transparência pública e o compartilhamento na internet sem fins comerciais, por aqui eles também pensam em inclusão digital. (AD)

Agrotóxicos no seu estômago


"Na safra passada, as empresas transnacionais, e são poucas (Basf, Bayer, Monsanto, Du Pont, Sygenta*, Bungue*, Shell química...), comemoraram que o Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Foram despejados 713 milhões de toneladas! Média de 3.700 quilos por pessoa. Esses venenos são de origem química e permanecem na natureza. Degradam o solo. Contaminam a água. E, sobretudo, se acumulam nos alimentos", escreve João Pedro Stédile, economista e integrante da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), em artigo publicado no jornal O Globo, 24-09-2009.


Eis o artigo.


Os porta-vozes da grande propriedade e das empresas transnacionais são muito bem pagos para todos os dias defender, falar e escrever de que no Brasil não há mais problema agrário. Afinal, a grande propriedade está produzindo muito mais e tendo muito lucro. Portanto, o latifúndio não é mais problema para a sociedade brasileira. Será? Nem vou abordar a injustiça social da concentração da propriedade da terra, que faz com que apenas 2%, ou seja, 50 mil fazendeiros, sejam donos de metade de toda nossa natureza, enquanto temos 4 milhões de famílias sem direito a ela.


Vou falar das consequências para você que mora na cidade, da adoção do modelo agrícola do agronegócio.


O agronegócio é a produção de larga escala, em monocultivo, empregando muito agrotóxicos e máquinas.


Usam venenos para eliminar as outras plantas e não contratar mão de obra. Com isso, destroem a biodiversidade, alteram o clima e expulsam cada vez mais famílias de trabalhadores do interior.


Na safra passada, as empresas transnacionais, e são poucas (Basf, Bayer, Monsanto, Du Pont, Sygenta, Bungue, Shell química...), comemoraram que o Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Foram despejados 713 milhões de toneladas! Média de 3.700 quilos por pessoa. Esses venenos são de origem química e permanecem na natureza. Degradam o solo. Contaminam a água. E, sobretudo, se acumulam nos alimentos.


As lavouras que mais usam venenos são: cana, soja, arroz, milho, fumo, tomate, batata, uva, moranguinho e hortaliças. Tudo isso deixará resíduos para seu estômago.


E no seu organismo afetam as células e algum dia podem se transformar em câncer.


Perguntem aos cientistas aí do Instituto Nacional do Câncer, referência de pesquisa nacional, qual é a principal origem do câncer, depois do tabaco? A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) denunciou que existem no mercado mais de vinte produtos agrícolas não recomendáveis para a saúde humana. Mas ninguém avisa no rótulo, nem retira da prateleira. Antigamente, era permitido ter na soja e no óleo de soja apenas 0,2 mg/kg de resíduo do veneno glifosato, para não afetar a saúde. De repente, a Anvisa autorizou os produtos derivados de soja terem até 10,0 mg/kg de glifosato, 50 vezes mais. Isso aconteceu certamente por pressão da Monsanto, pois o resíduo de glifosato aumentou com a soja transgênica, de sua propriedade.


Esse mesmo movimento estão fazendo agora com os derivados do milho.


Depois que foi aprovado o milho transgênico, que aumenta o uso de veneno, querem aumentar a possibilidade de resíduos de 0,1 mg/kg permitido para 1,0 mg/kg.


Há muitos outros exemplos de suas consequências. O doutor Vanderley Pignati, pesquisador da UFMT, revelou em suas pesquisas que nos municípios que têm grande produção de soja e uso intensivo de venenos os índices de abortos e má formação de fetos são quatro vezes maiores do que a média do estado.


Nós temos defendido que é preciso valorizar a agricultura familiar, camponesa, que é a única que pode produzir sem venenos e de maneira diversificada. O agronegócio, para ter escala e grandes lucros, só consegue produzir com venenos e expulsando os trabalhadores para a cidade.


E você paga a conta, com o aumento do êxodo rural, das favelas e com o aumento da incidência de venenos em seu alimento.


Por isso, defender a agricultura familiar e a reforma agrária, que é uma forma de produzir alimentos sadios, é uma questão nacional, de toda sociedade.


Não é mais um problema apenas dos sem-terra. E é por isso que cada vez que o MST e a Via Campesina se mobilizam contra o agronegócio, as empresas transnacionais, seus veículos de comunicação e seus parlamentares, nos atacam tanto.


Porque estão em disputa dois modelos de produção. Está em disputa a que interesses deve atender a produção agrícola: apenas o lucro ou a saúde e o bem-estar da população? Os ricos sabem disso e tratam de consumir apenas produtos orgânicos.


E você precisa se decidir. De que lado você está?


Fonte: IHU-Instituto Humanitas Unisinos


* [Nota do autor] O nome correto é Syngenta e Bunge, respectivamente.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Morre atriz que interpretava a Emília no Sítio do Pica Pau Amarelo

Quem tem mais de 30 anos de idade, sem dúvida deve se lembrar do seriado Sítio do Pica Pau Amarelo, de Monteiro Lobato, que era exibido pela tv globo, nos anos 70 e 80. Um dos personagens mais marcantes da série, era a Emília, boneca de pano, que falava pelos cotovelos e tinha uma imaginação sem limites. Talvez a atriz que tenha dado mais identidade à boneca, tenha sido Dirce Migliaccio, que interpretou a boneca na primeira versão global do seriado, em 1977, que ainda tinha no elenco, Zilka Salaberry, como Dona Benta e André Valli, no papel do Visconde de Sabugosa.

Dirce Migliaccio, de 75 anos, estava internada no Rio de Janeiro, desde o início do mês com um quadro de pneumonia e infecção urinária, além de sequelas de dois derrames cerebrais, ocorridos nos últimos dez meses. Dirce, que morava desde o ano passado no Retiro dos Artistas, instituição onde vivem artistas idosos em dificuldades financeiras, passou por três hospitais públicos. Antes disso, por conta do AVC, só se locomovia de cadeira de rodas e tinha falhas de memória.

Além de Emília, ela também ganhou destaque como Judicéia Cajazeira, na novela "O Bem Amado" (1973), de Dias Gomes. Dirce estreou no teatro em 1958, com a peça "Eles não usam black tie". Em 1962, estrelou o filme "O assalto ao trem pagador", de Roberto Farias. Entre os trabalhos mais recentes estão o seriado "Casos e Acasos" (2008) e os filmes ""Xuxa em sonho de menina" (2007) e Buffo & Spallanzani" (2001). Irmã do também ator Flavio Migliaccio, ela nasceu em São Paulo, em 30 de setembro de 1933.


Abaixo um dos episódios do Sítio do Pica Pau Amarelo, onde Dirce interpretava a Emília, sentiremos saudades.


Fontes: Yahoo!, Estadão e YouTube


'Nossa política de mobilidade tem como base a exclusão social'. Entrevista especial com Nazareno Stanislau Affonso


Cinco horas da tarde no centro de São Paulo. Para a maioria dos brasileiros, imaginar essa situação significa pensar na imagem de ruas completamente congestionadas, com velocidade média de 18 km/hora na Marginal Tietê, por exemplo. A maior cidade brasileira já virou sinônimo de caos no trânsito. E o problema já é uma realidade em todas as grandes cidades do país, e tão incômodo e estressante quanto em São Paulo. Enquanto isso, o Brasil investe quatro bilhões de reais para que os bancos possam financiar a produção de mais carros. “Para mudar essa cultura, primeiro é preciso fazer uma mudança estrutural no conceito de mobilidade”, diz Nazareno Stanislau Affonso, que nos concedeu a entrevista a seguir, por telefone, onde tratou da questão da cultura do automóvel no Brasil.

Nazareno Stanislau Affonso é coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade (MTD) e do escritório da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) de Brasília. Também é diretor do Instituto RUAVIVA e é integrante do Conselho das Cidades e da Coordenação do Fórum Nacional da Reforma Urbana.

Confira a entrevista. IHU On-Line – O Brasil demorou 50 anos para produzir 50 milhões de veículos e deverá fabricar outros 50 milhões nos próximos 15 anos, segundo a Anfavea. Qual é o significado para a vida nas cidades?

Nazareno Stanislau Affonso –
Significa a concretização de uma política de mobilidade absolutamente arcaica, antiambiental, que ameaça o ser humano. O problema é que não há recursos das cidades para comportar esse aumento de frota. Se estampássemos hoje a frota de veículos como está, teríamos que investir maciçamente para que as pessoas que se deslocam com carro continuassem a fazer isso com o mínimo de qualidade. Essa política é, do ponto de vista ambiental, completamente suicida. Já do ponto de vista econômico, essa política é predatória, porque retira investimentos de um sistema que é para todos, para atender interesses de 30% das viagens no Brasil. Quem mora hoje nas cidades médias e grandes já está vivendo uma mobilidade insuportável para quem tem carro. Quem não tem carro, o problema é ainda maior, porque você aumenta o tempo de viagem, aumenta o custo do transporte. Os dados que temos, de uma pesquisa feita há mais de dez anos, mostram que o aumento do congestionamento aumenta a tarifa em mais de 15%. Nossa política de mobilidade tem como base a exclusão social. Além disso, há o genocídio no trânsito. Isso não ocorre tanto pelo crescimento da frota, mas pela liberalidade aos crimes de trânsito.

IHU On-Line – A partir de que momento o país optou pela mobilidade em quatro rodas e por que razões?

Nazareno Stanislau Affonso – Ele opta no governo Juscelino Kubitschek, quando vem aquela ideia de substituição e importação, as montadoras foram trazidas para o Brasil e criou-se aquele vício de desenvolvimento nacional, dando a ilusão de que cada brasileiro teria o seu carro. Nossa política é uma cópia do modelo estadunidense que tem como base a dispersão das cidades, construindo cada vez mais loteamentos distantes, aumentando o custo urbano. Um modelo diferente da Europa que, mesmo dependente do automóvel, as cidades são mais concentradas, têm políticas urbanas. Esse é o nosso problema: nós copiamos o modelo de mobilidade que foi planejado pelas montadoras. A General Motors planejou o fim do transporte público na década de 1920, montou uma política de destruição e vai quebrando o transporte público. Aqui fizemos algo parecido quando destruímos os bondes para liberar espaço nas vias para os automóveis e tirar uma opção de transporte público de qualidade.

IHU On-Line – A rua se transformou no espaço por excelência dos carros e as pessoas foram expulsas da rua. Sempre foi assim?

Nazareno Stanislau Affonso –
Não. Muitas cidades não tinham nem divisão entre rua e calçada porque os veículos, cavalos e outros não eram elementos de ameaça ao ser humano. Quando você coloca neste espaço um veículo e vai desenvolvendo cada vez mais a velocidade de forma indiscriminada, está incentivando a violência no trânsito, por exemplo, temos algumas cidades brasileiras em que a estrada permite, como velocidade máxima, que um carro avance até 120 km/hora. E os carros são construídos para poderem chegar a 240 km/hora. É raro o carro que não faça, no mínimo, 180 km/hora. De quem é a responsabilidade de uma morte causada por um veículo que anda a mais de 120 km/hora? Eu diria que é de quem autorizou e de quem fabricou, e não do motorista. Então, começamos a ter não um veículo, mas uma arma que é dada ao ser humano para ele poder ameaçar outros. A rua passa a ser um espaço de ameaça constante à vida. Existe uma frase que diz: "Se mede a democracia de um país pela largura de suas calçadas". O carro começou a “comer” os canteiros centrais e as calçadas, as bicicletas começaram a ser ameaçadas de forma assustadora, assim como os pedestres. Os índices de morte no trânsito são de cem pessoas por dia, e entre 300 e 600 ficam com alguma deficiência. E não há política para restringir essa chacina nas ruas.

IHU On-Line – E como mudar essa cultura?

Nazareno Stanislau Affonso –
Para mudar essa cultura, primeiro é preciso fazer uma mudança estrutural no conceito de mobilidade. Antes, nós tínhamos as mobilidades em pedaços, falávamos de trânsito, calçada, bicicleta, de pessoas portadoras de deficiência. Hoje, a política de mobilidade coloca tudo no mesmo saco e, quando se faz isso, começamos a ver a iniquidade de usar um espaço público com extremo favorecimento para o transporte individual. A maior parte das vias é usada pelo automóvel. Se você pega as vias onde passa o ônibus em Porto Alegre, em função das vias exclusivas para transporte público, terá 30%, mas São Paulo não passa de 10%. Para que possamos mudar isso, temos medidas absolutamente nas mãos do governo. Em primeiro lugar, precisamos de uma política de estacionamento. Essa palavra é um tabu, porque, para mim, esse deveria ser o primeiro pedágio urbano que qualquer cidade deveria fazer. Deveríamos eliminar estacionamento de carros em qualquer parte da via. Isso tem que ser política pública, o governo tem que dizer onde pode e onde não pode ter estacionamento. Segundo: esse estacionamento tem que gerar recursos para um fundo de transporte público de qualificação de calçadas, ciclovias, faixas e outros tipos de modais.

IHU On-Line – E onde está o excesso?

Nazareno Stanislau Affonso –
Está na utilização do sistema viário que não paga estes privilégios. Está na utilização indiscriminada do sistema viário, que, em algumas cidades, os carros invadem calçadas e praças, e não há fiscalização. Para mudar isso, em primeiro lugar tem que haver uma política de estacionamento, taxando os estacionamentos. A segunda política que é fundamental é retirar o transporte público do congestionamento dos automóveis. Isto significa que devem ser construídas vias exclusivas para o transporte público, não só como Porto Alegre já tem. Devem ser feitos o que hoje são chamados de corredores, que ultrapassem os pontos de parada ou, em muitos casos, se tenham duas vias para os ônibus, ao invés de uma só. E, para isso, é preciso retirar do automóvel os privilégios de usar todo o sistema viário e deixar o ônibus no congestionamento. Nas vias existentes, tem que ser limitado o acesso do automóvel, para isso já temos sistemas de controles, como os controles eletrônicos que, se o carro entra, é multado, existem barreiras físicas. Estas vias que têm estacionamento podem servir para aumentar calçadas, para fazer um corredor de ônibus, aí já mudamos a cidade inteira, não para aumentar o sistema viário dos automóveis, mais uma via de rolamento. Esta política vai ampliando a acessibilidade para quem anda de bicicleta. A bicicleta tem autonomia, em cidades planas, de 12 km, e deve se mudar uma cultura dentro das empresas, com banheiros e locais para estacionar. As calçadas devem ser acessíveis para as pessoas portadoras de deficiência. Os veículos de transporte público devem ser de qualidade, e isso já temos a lei, até 2014 todos os ônibus têm que ser acessíveis. Hoje não se pode procurar mais nenhum ônibus que não tenha elevador ou não seja acessível. Temos que mudar o perfil da frota, por exemplo. O governo federal precisa começar a investir em transporte público. Se ele continuar favorecendo a indústria do jeito que faz, controlando o preço da gasolina para ela não aumentar e chegar aos preços reais, o problema só vai aumentar.

IHU On-Line – A crise ecológica pode ser uma oportunidade para se repensar a cultura do automóvel, ou apenas substituiremos a fonte energética de propulsão dos motores. Qual é a sua percepção?

Nazareno Stanislau Affonso –
O problema do efeito estufa não se resolve reduzindo a poluição. Efeito estufa é uma coisa, poluição é outra. Então, o combate ao efeito estufa não tem como ser feito sem a redução do uso do automóvel nas cidades. É inevitável que, em dez, quinze anos, o automóvel não ocupe o lugar que tem hoje. Veículos elétricos pequenos, com outro tipo de combustível, andar com produtividade total são coisas que precisamos e, ainda assim, será necessário construir políticas públicas sobre sua circulação em áreas centrais. Não há como escapar de uma política radical sobre o condicionamento do automóvel e até sobre sua fabricação.

IHU On-Line – O senhor avalia que deveríamos ter uma legislação mais rigorosa relacionada à publicidade dos carros?

Nazareno Stanislau Affonso – Essa política hoje é absurda. Para mim, nós tínhamos de ter uma política completamente dura contra qualquer propaganda que incentivasse a violência no trânsito. O governo precisa ter um posicionamento mais duro, pois isso é uma coisa muito simples de se fazer. Quando uma propaganda incentiva a violência no trânsito, a empresa tem que ser multada. O único jeito de controlar é assim, multando. Enquanto tivermos uma comissão que só faz análise, as coisas não vão funcionar. O problema não está nas propagandas de venda de carro, mas sim no governo que disponibilizou quatro bilhões aos bancos para financiarem a produção de veículos.

IHU On-Line – É possível projetar como nos deslocaremos dentro de dez anos?

Nazareno Stanislau Affonso –
Ainda é uma incógnita, mas, em dez anos, é possível que as maiores cidades tenham sistemas estruturais. Espero que possamos começar a sonhar com esses sistemas. Temos aí a Copa, e, por isso, vai ser difícil o governo fechar os olhos para a questão. Vai ter que ser transporte público mesmo. Eu tenho esperança que, em dez anos, possamos sonhar em instituir uma política de estacionamento. Para isso, estamos trabalhando para que a sociedade civil se engaje e possamos ter como enfrentar esse problema que foi construído de forma a promover essa política para o automóvel. Até os Estados Unidos já começaram a construir políticas e estruturas para organizar o lugar dos carros nas cidades, e na Europa já há políticas claras de gestão do automóvel. O Brasil ainda está na contramão da história.

Fonte: IHU-Insitituto Humanitas Unisinos

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Nile divulga arte do novo álbum

Atualizado em 22/09/2009 - 16:45h.

Os americanos do NILE divulgaram a arte da capa e as faixas que estarão no próximo álbum, "Those whom the gods detest", que deverá ser lançado em 3 de novembro. Após o excelente álbum Ithyphallic, de 2007, os fãs vão ouvir mais um disco na mesma linha, com composições pesadíssimas e que beiram a velocidade da luz. Os fãs do Nile certamente não tem do que reclamar, pois, só neste ano, já ganharam um álbum do projeto solo de Karl Sanders, e agora o tão esperado disco do Nile. Vazou hoje (22) na internet e já é possível baixá-lo em alguns sites e programas P2P. Abaixo uma das faixas novas que realmente confirma o esperado!

Tracklist:
1. Kafir!
2. Hittite Dung Incantation
3. Utterances of the Crawling Dead
4. Those Whom the Gods Detest
5. 4th Arra of Dagon
6. Permitting the Noble Dead to Descend to the Underworld
7. Yezd Desert Ghul Ritual in the Abandoned Towers of Silence
8. Kem Khefa Kheshef
9. The Eye of Ra
10. Iskander D'hul Karnon

Fontes: Whiplash.net e Metal Injection

O véu do laicismo


FOLHA 15-9-2009


Véu islâmico, laicidade e liberdade religiosa


por PAULO GUSTAVO GUEDES FONTES


DEPOIS de provocar muita polêmica em 2004, quando seu uso foi proibido nas escolas públicas francesas, o véu islâmico voltou a agitar a política da França e da Europa neste ano.
No último dia 22 de junho, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, manifestou aos deputados e senadores da França o seu repúdio ao uso da burca e do chador e seu apoio a eventual ato legislativo que pretenda proibi-los no território francês. (A burca e o chador nada mais são do que a versão mais fechada do véu islâmico.)
Sarkozy afirmou, na ocasião, que a questão não teria caráter religioso, mas diria respeito à igualdade entre homens e mulheres. Para o presidente francês, a burca é um signo de submissão das mulheres.
Nessa mesma linha, em 4 de dezembro de 2008, a Corte Europeia dos Direitos Humanos, sediada em Estrasburgo, considerou justificada a expulsão de duas alunas muçulmanas de uma escola pública francesa por terem se recusado a retirar o véu nas aulas de educação física. Aquela corte entendeu que não houve desrespeito à liberdade religiosa.
Contudo, tais medidas podem, sim, ferir gravemente a liberdade de crença e de religião. É compreensível que se proíba o uso de signos religiosos pelos representantes do Estado, como juízes, policiais ou mesmo professores de escolas públicas. Mas que tal proibição atinja o próprio cidadão na sua vida privada, isso constitui uma deturpação do princípio da laicidade.
Não se pode entender a laicidade do Estado sem referência à liberdade religiosa. É a outra face da moeda.
Por que razão o Estado deve ser laico? Porque, representando todos os cidadãos, não poderia abraçar uma opção religiosa sem alienar dessa representação os cidadãos de outra crença ou mesmo os que não professem religião alguma. Assim, a liberdade de religião, aliada a uma nova concepção do Estado e da igualdade, está na origem da laicidade.
De qualquer forma, é aos agentes e funcionários do Estado que o princípio da laicidade se dirige, vedando que expressem, no exercício da função pública, suas preferências religiosas. Os edifícios públicos, da mesma maneira, deveriam manifestar essa neutralidade diante da religião.
A laicidade é exigida sempre do Estado, nunca do cidadão, do particular, para o qual vale a liberdade de professar qualquer crença ou religião. A menina que vai à escola francesa não representa o Estado. É para que os cidadãos possam usar crucifixos, véus ou quaisquer signos religiosos que o Estado se laicizou, que se tornou neutro diante da opção religiosa.
Vedar à jovem o uso do véu islâmico, mesmo na escola pública, é violentar sua liberdade religiosa, mormente pela importância que essa questão tem para as mulheres muçulmanas.
Vedar o seu uso no território de um país é medida que remete às guerras de religião.
O que tem sido professado na França é uma deturpação da laicidade, o laicismo, versão militante daquela.
Ele perde de vista a liberdade religiosa e quer impor à população uma forma de secularização.
Norberto Bobbio estabelece essa distinção. Para ele, a laicidade, ou o espírito laico, não é em si uma nova cultura, mas uma condição de convivência de todas as possíveis culturas.
Por outro lado, assevera que o laicismo que “necessite armar-se e organizar-se corre o risco de converter-se numa igreja em oposição às demais”.
Por fim, parece igualmente autoritário o argumento de Sarkozy de que a proibição visaria à igualdade entre homens e mulheres.
Ainda que se considere o véu islâmico incompatível, mormente na forma da burca, com a visão que temos da mulher no Ocidente, ele é certamente um signo religioso.
Se uma mulher oculta seu rosto e cabelos -ou o corpo inteiro- por respeito à religião ou se o faz por medo do marido ou do militante islâmico do bairro, só ela pode saber.
Na dúvida, para não ferir algo tão íntimo e inviolável quanto a liberdade de crença e de religião e para não retrocedermos alguns séculos, é melhor deixar que ela retire o seu véu espontaneamente, convencida que venha a ser disso pela cultura ocidental da igualdade, da liberdade e da fraternidade -que costumavam ser a divisa dos franceses.



PAULO GUSTAVO GUEDES FONTES, mestre em direito público pela Universidade de Toulouse (França), é procurador da República em Sergipe.

Fontes: Mundus Est Fabula e Folha

Estados Unidos fascistas: Já chegamos lá?

As elites conservadoras dos Estados Unidos jogaram abertamente seu futuro com o das legiões de descontentes da extrema-direita. Elas deram apoio explícito e poder às legiões para que ajam como um braço político nas ruas americanas, apoiando ameaças físicas e a intimidação de trabalhadores, liberais e autoridades que se neguem a defender seus [das elites] interesses políticos e econômicos. Chegamos. Estamos estacionados exatamente no lugar onde nossos melhores especialistas dizem que o fascismo nasce. O artigo é de Sara Robinson, do blog For Our Future.

Através da escuridão dos anos do governo Bush, os progressistas assistiram horrorizados ao sumiço das proteções constitucionais, à retórica nativista, ao uso do discurso de ódio transformado em intimidação e violência e a um presidente dos Estados Unidos que assumiu poderes só exigidos pelos piores ditadores da história. Com cada novo ultraje, o punhado de nós que tinha se tornado expert na cultura e na política da extrema-direita ouvia de novos leitores preocupados: Chegamos lá? Já nos tornamos um estado fascista? Quando vamos chegar lá?

E cada vez que essa pergunta era feita, gente como Chip Berlet e Dave Neiwert e Fred Clarkson e eu mesma olhava para o mapa como o pai que faz uma longa viagem e respondia com um sorriso confortador. "Bem... estamos numa estrada ruim, se não mudarmos de caminho poderíamos acabar lá em breve. Mas há muito tempo e oportunidades para voltar. Fique de olho, mas não se preocupe. Pode parecer ruim, mas não, ainda não chegamos lá".

Ao investigar a quilometragem nesse caminho para a perdição, muitos de nós nos baseávamos no trabalho do historiador Robert Paxton, que é provavelmente o estudioso mais importante na questão de como os países adotam o fascismo. Em um trabalho publicado em 1998 no Jornal da História Moderna, Paxton argumentou que a melhor forma de reconhecer a emergência de movimentos fascistas não é pela retórica, pela política ou pela estética. Em vez disso, ele afirmou, as democracias se tornam fascistas por um processo reconhecível, um grupo de cinco estágios que identificam toda a família de "fascismos" do século 20. De acordo com nossa leitura de Paxton, ainda não estávamos lá. Havia certos sinais -- um, em particular -- em que estávamos de olho, e ainda não o reconhecíamos.

E agora o reconhecemos. Na verdade, se você sabe o que procura, repentinamente vê isso em todo lugar. É estranho que eu não tenha ouvido a pergunta por um bom tempo; mas se você me fizer a pergunta hoje, eu diria que ainda não chegamos, mas que já entramos no estacionamento e estamos procurando uma vaga. De qualquer forma, o futuro fascista dos Estados Unidos aparece bem grande diante do vidro do automóvel -- e os que dão valor à democracia dos Estados Unidos precisam entender como chegamos aqui, o que está mudando e o que está em jogo no futuro próximo se permitirmos a essa gente vencer -- ou mesmo manter o território.

O que é fascismo?

A palavra tem sido usada por tanta gente, tão erroneamente, por tanto tempo que, como disse Paxton, "todo mundo é o fascista de alguém". Dado isso, sempre gosto de começar a conversa revisitando a definição essencial de Paxton:

"Fascismo é um sistema de autoridade política e ordem social que tem o objetivo de reforçar a unidade, a energia e a pureza de comunidades nas quais a democracia liberal é acusada de produzir divisão e declínio".

Em outro lugar, ele refina o termo como "uma forma de comportamento político marcado pela preocupação obsessiva com o declínio da comunidade, com a humilhação e a vitimização e pelo culto compensatório da unidade, energia e pureza, na qual um partido de massas de militantes nacionalistas, trabalhando em colaboração desconfortável mas efetiva com as elites tradicionais, abandona as liberdades democráticas e busca através de violência redentora e sem controles éticos ou legais objetivos de limpeza interna e expansão externa".

Não considerando Jonah Goldberg, é uma definição básica com a qual a maioria dos estudiosos concorda e é a que usarei como referência

Do proto-fascismo ao momento-chave

De acordo com Paxton, o fascismo surge em cinco estágios. Os dois primeiros estão solidamente atrás de nós - e o terceiro deveria ser de particular interesse para os progressistas nesse momento.

No primeiro estágio, um movimento rural emerge em busca de algum tipo de renovação nacionalista (o que Roger Griffin chama de palingenesis, o renascimento das cinzas, como a de fênix). Eles se reúnem para restaurar uma ordem social rompida, como sempre usando temas como unidade, ordem e pureza. A razão é rejeitada em favor da emoção passional. A maneira como a história é contada muda de país para país; mas ela sempre tem raiz na restauração do orgulho nacional perdido pela ressureição dos mitos e valores tradicionais da cultura e na purificação da sociedade das influências tóxicas de estrangeiros e de intelectuais, aos quais cabe o papel de culpados pela miséria atual.

O fascismo somente cresce no solo revolto de uma democracia madura em crise. Paxton sugere que a Ku Klux Klan, que se formou em reação à Restauração pós-Guerra Civil, pode ser o primeiro movimento autenticamente fascista dos tempos modernos. Quase todo país da Europa teve um movimento proto-fascista nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial (quando o Klan experimentou um ressurgimento nos Estados Unidos), mas a maior parte deles empacou no primeiro estágio -- ou no próximo.

Como Rick Perlstein documentou em seus dois livros sobre Barry Goldwater e Richard Nixon, o conservadorismo moderno dos Estados Unidos foi construído sobre esses mesmos temas. Do "Despertar nos Estados Unidos" [tema de campanha de Ronald Reagan] aos grupos religiosos prontos para a Ruptura [os milenaristas], ao nacionalismo branco promovido pelo Partido Republicano através de grupos racistas de vários graus, é fácil identificar como o proto-fascismo americano ofereceu a redenção dos turbulentos anos 60 ao promover a restauração da inocência dos Estados Unidos tradicionais, brancos, cristãos e patriarcais.

Essa visão foi abraçada tão completamente que todo o Partido Republicano agora se define nessa linha. Nesse estágio, é abertamente racista, sexista, repressor, excludente e permanentemente viciado na política do medo e do ódio. Pior: não se envergonha disso. Não se desculpa para ninguém. Essas linhas se teceram em todo movimento fascista da História.

Em um segundo estágio, os movimentos fascistas ganham raízes, se tornam partidos políticos reais e ganham um lugar na mesa do poder.

Interessantemente, em todo caso citado por Paxton a base política veio do mundo rural, das partes menos educadas do país; e quase todos chegaram ao poder se oferecendo especificamente como esquadrões informais organizados para intimidar pequenos proprietários em nome dos latifundiários.

A KKK lutava contra os pequenos agricultores negros [do sul dos Estados Unidos] e se organizou como o braço armado de Jim Crow. Os "squadristi" italianos e os camisas-marrom da Alemanha reprimiam greves rurais. E nos dias de hoje os grupos anti-imigração apoiados pelo Partido Republicano tornam a vida dos trabalhadores rurais hispânicos nos Estados Unidos um inferno. Enquanto a violência contra hispânicos aumenta (cidadãos americanos ou não), os esquadrões da direita estão obtendo treinamento básico que, se o padrão se confirmar, poderão eventualmente usar para nos intimidar.

Paxton escreveu que o sucesso no segundo estágio "depende de certas condições relativamente precisas: a fraqueza do estado liberal, cujas inadequações condenam a nação à desordem, declínio ou humilhação; e a falta de consenso político, quando a direita, herdeira do poder mas incapaz de usá-lo sozinha, se nega a aceitar a esquerda como parceira legítima".

Paxton notou que Hitler e Mussolini assumiram o poder sob essas mesmas circunstâncias: "Paralisia do governo constitucional (produzida em parte pela polarização promovida pelos fascistas); líderes conservadores que se sentiram ameaçados pela perda de capacidade para manter a população sob controle num momento de mobilização popular maciça; o avanço da esquerda; e líderes conservadores que se negaram a trabalhar com a esquerda e que se sentiram incapazes de continuar no governo contra a esquerda sem um reforço de seus poderes".

E, mais perigosamente: "A variável mais importante é aceitação, pela elite conservadora, de trabalhar com os fascistas (com uma flexibilidade recríproca dos líderes fascistas) e a profundidade da crise que os induz a cooperar".

Essa descrição parece muito com a situação difícil em que os congressistas republicanos estão nesse momento. Apesar do partido ter sido humilhado, rejeitado e reduzido a um status terminal por uma série de catástrofes nacionais, a maior parte produzida pelo próprio partido, sua liderança não pode nem imaginar governar cooperativamente com os democratas em ascensão. Sem rotas legítimas para voltar ao poder, sua última esperança é investir no que restou de sua "base dura", dando a ela uma legitimidade que não tem, recrutá-la como tropa de choque e derrubar a democracia americana pela força. Se eles não podem vencer eleições, estão dispostos a levar a disputa política para as ruas e assumir o poder intimidando os americanos a se manterem silenciosos e cúmplices.

Quando esta aliança "não santa" é feita, o terceiro estágio -- a transição para um governo abertamente fascista -- começa.

O terceiro estágio: chegando lá

Durante os anos do governo Bush, os analistas progressistas da direita se negaram a chamar o que viam de "fascismo" porque, apesar de estarmos de olho, nunca vimos sinais claros e deliberados de uma parceria institucional comprometida entre as elites conservadoras dos Estados Unidos e a horda nacional de camisas-marrom. Vimos sinais de flertes breves - algumas alianças políticas, apoio financeiro, palavras-de-ordem doidas da direita na boca de líderes conservadores tradicionais. Mas era tudo circunstancial e transitório. Os dois lados mantiveram uma distância discreta um do outro, pelo menos em público. O que acontecia por trás das portas, só dá para imaginar. Eles com certeza não agiam como um casal.

Agora, o jogo de advinhação acabou. Nós sabemos sem qualquer dúvida que o movimento do Teabag foi criado por grupos como o FreedomWorks do Dick Armey e o Americans for Prosperity do Tim Phillips, com ajuda maciça de mídia da Fox News [a TV de Rupert Murdoch, o magnata da mídia, é porta-voz da extrema-direita dos Estados Unidos].

Site da FreedomWorks

Site do Americans For Prosperity

[Nota do Viomundo: O movimento do Teabag foi um protesto em escala nacional, organizado pelos republicanos, com ampla cobertura da Fox, em que eleitores protestaram contra a cobrança de impostos e o tamanho do governo federal. Uma tentativa de trazer de volta a rebelião contra a cobrança de impostos que esteve na origem do movimento de independência dos Estados Unidos. Ver Boston Tea Party]

Vimos a questão dos birther [aqueles que acreditam que Barack Obama não nasceu nos Estados Unidos, mas no Quênia] -- o tipo de lenda urbana que nunca deveria ter saído da capa do [jornal sensacionalista] National Enquirer -- sendo ratificada por congressistas republicanos.

Vimos os manuais produzidos profissionalmente por Armey que instruem grupos de eleitores republicanos na arte de causar distúrbios no processo de governo democrático - e as imagens de autoridades públicas aterrorizadas e ameaçadas a ponto de requererem guarda-costas armados para sair de prédios [os protestos aconteceram durante audiências públicas para debater o novo sistema de saúde].

Um dos protestos aparece aqui

Vimos o líder da minoria republicana John Boehner aplaudindo e promovendo um vídeo de manifestantes e esperando por "um longo e quente agosto para os democratas no Congresso".

Este é o sinal pelo qual estávamos esperando -- o que nos diria que sim, crianças, chegamos. As elites conservadoras dos Estados Unidos jogaram abertamente seu futuro com o das legiões de descontentes da extrema-direita. Elas deram apoio explícito e poder às legiões para que ajam como um braço político nas ruas americanas, apoiando ameaças físicas e a intimidação de trabalhadores, liberais e autoridades que se neguem a defender seus [das elites] interesses políticos e econômicos.

Este é o momento catalisador em que o fascismo honesto, de Hitler, começa. É nossa última chance de brecá-lo.

O ponto decisivo

De acordo com Paxton, esse momento da aliança do terceiro estágio é decisivo - e o pior é que quando se chega a esse ponto, é provavelmente tarde para pará-lo. Daqui, há uma escalada, quando pequenos protestos se tornam espancamentos, mortes e a aplicação de rótulos em certos grupos para eliminação, tudo dirigido por pessoas no topo da estrutura de poder. Depois do Dia do Trabalho [Labor Day], quando senadores e deputados democratas voltarem a Washington, grupos organizados para intimidá-los vão permanecer na cidade e usar a mesma tática - aumentada e aperfeiçoada a cada uso - contra qualquer pessoa cuja cor, religião ou inclinação política eles não aceitem. Em alguns lugares, eles já estão tomando nota e preparando listas de nomes.

Qual é a linha do perigo? Paxton oferece três rápidas perguntas que nos ajudam a identificar:

1. Estão os neo ou proto-fascistas se tornando arraigados em partidos que representam grandes interesses e sentimentos e conseguem ampla influência na cena política?

2. O sistema econômico ou constitucional está congestionado, de forma aparentemente insuperável, pelas autoridades atuais?

3. A mobilização política rápida está ameaçando sair do controle das elites tradicionais, ao ponto que elas poderiam buscar ajuda para manter o controle?

Pela minha avaliação, a resposta é sim. Estamos muito perto. Muito perto.

O caminho adiante

A História nos diz que uma vez essa aliança [entre a elite e a tropa de choque] é formada, catalisada e tem sucesso em busca do poder, não há mais como pará-la. Como Dave Neiwert escreveu em seu livro recente, The Eliminationists, "se apenas podemos identificar o fascismo em sua forma madura - os camisas-marrom com passos de ganso, o uso de táticas de intimidação e violência, os comícios de massa - então será muito tarde para enfrentá-lo".

Paxton (que anteviu que "um autêntico fascismo popular nos Estados Unidos será crente e anti-negros") concorda que se uma aliança entre as corporações e os camisas-marrom tiver uma conquista - como a nossa aliança tenta agora [barrando a reforma do sistema de saúde proposta por Barack Obama] - pode rapidamente ascender ao poder e destruir os últimos vestígios de um governo democrático. Assim que ela conseguir algumas vitórias, o país estará condenado a fazer a feia viagem através dos dois últimos estágios, sem saída ou paradas entre agora e o fim.

O que nos espera? No estágio quatro, quando o dueto assumir o controle completo do país, lutas políticas vão emergir entre os crentes do partido - os camisas-marrom e as instituições da elite conservadora - igreja, militares, profissionais e empresários. O caráter do regime será determinado por quem vencer a disputa. Se os membros do partido (que chegaram ao poder através da força bruta) vencerem, um estado policial autoritário seguirá. Se os conservadores conseguirem controlá-los, um teocracia tradicional, uma corporocracia ou um regime militar podem emergir com o tempo. Mas em nenhum caso o resultado lembrará a democracia que a aliança derrubou.

Paxton caracteriza o estágio cinco como "radicalização ou entropia". Radicalização é provável se o novo regime conseguir um grande vitória militar [Nota do Azenha: sobre a Venezuela, por exemplo], o que consolida seu poder e dá apetite para expansão e uma reengenharia social em grande escala (Veja a Alemanha). Na ausência do evento radicalizador, podemos ter a entropia, com a perda pelo estado de seus objetivos, o que degenera em incoerência política (Ver a Itália).

É fácil neste momento olhar para a confusão na direita e dizer que é puro teatro político do tipo mais absurdamente ridículo. Que é um show patético de marionetes. Que esse povo não pode ser levado a sério. Com certeza, eles estão com raiva -- mas eles são minoria, fora do poder e reduzida a ataques de nervos. Os crescidos devem se preocupar com eles tanto quanto se preocupam com uma menina de cinco anos, furiosa, que ameaça segurar a respiração até ficar azul.

Infelizmente, todo o barulho e as ameaças obscurecem o perigo. Essa gente é tão séria quanto uma multidão linchadora e eles já deram os primeiros passos para se tornar uma. Eles vão se sentir mais altos e mais orgulhosos agora que suas tentativas de desobediência civil estão contando com apoio integral das pessoas mais poderosas do país, que cinicamente os usam numa última tentativa de garantir suas posições de lucro e prestígio.

Chegamos. Estamos estacionados exatamente no lugar onde nossos melhores especialistas dizem que o fascismo nasce. Todos os dias que os conservadores no Congresso, os comentaristas de extrema-direita e seus barulhentos seguidores conseguem segurar nossa capacidade de governar o país, é mais um dia em que caminhamos em direção à linha final, da qual nenhum país, mostra a História, conseguiu retornar.

Fontes: Carta Maior, Vi o mundo e Blog For Our Future

Em defesa da democracia e do MST

"Se a agricultura brasileira é tão moderna e produtiva, por que o agronegócio teme tanto a atualização dos índices de produtividade?", perguntam Plínio de Arruda Sampaio, Pedro Tierra e Osvaldo Russo, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 21-09-2009.

Plínio de Arruda Sampaio é presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária). Foi deputado federal pelo PT-SP (1985-1991) e consultor da FAO.


Hamilton Pereira, o Pedro Tierra, é poeta e membro do Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo.


Osvaldo Russo é estatístico, é diretor da Abra e coordenador do núcleo agrário nacional do PT. Foi presidente do Incra (1993-1994).


Eis o artigo.


A reconstrução da democracia tem exigido enormes sacrifícios dos trabalhadores. Desde a reconstrução de suas organizações, destruídas por 20 anos de repressão, até a invenção de novas formas de lutas capazes de responder ao desafio de enfrentar uma das sociedades mais desiguais do mundo. Isso tem implicado apresentar aos herdeiros da cultura escravocrata de 500 anos os trabalhadores da cidade e do campo como cidadãos, participantes legítimos da produção da riqueza e beneficiários da sua partilha.


O ódio das oligarquias jamais perde de vista um desses novos instrumentos de organização e luta: o MST.


Esse movimento paga diariamente com suor e sangue - como há pouco no Rio Grande do Sul - por sua ousadia de questionar um dos pilares da desigualdade: o monopólio da terra.


O gesto de levantar sua bandeira se traduz numa frase simples de entender e, por isso, intolerável aos ouvidos dos senhores da terra e do agronegócio. Não podemos considerar uma República um país em que 1% da população tem a propriedade de 46% do território, defendida por cercas, agentes do Estado e matadores de aluguel.


Menos ainda uma democracia.


A Constituição determina que latifúndios improdutivos e terras usadas para a plantação de matérias-primas para a produção de drogas devem ser destinados à reforma agrária. No entanto, os sucessivos governos têm sido negligentes.


À ousadia dos trabalhadores rurais de garantir direitos constitucionais, pressionando autoridades com ocupações pacíficas, soma-se outra ousadia, também intolerável: a disputa legítima e legal do orçamento público.


Em 40 anos, desde a criação do Incra, cerca de 1 milhão de famílias rurais foram assentadas -mais da metade de 2003 pra cá. Para viabilizar a atividade dessas famílias, para integrá-las ao processo produtivo de alimentos e divisas no novo ciclo de desenvolvimento, é necessário travar a disputa por investimentos públicos.


Daí resulta o ódio dos ruralistas e do grande capital, habituados ao acesso exclusivo ao crédito, a subsídios e ao perdão periódico de dívidas.


O compromisso do governo de rever os critérios de produtividade responde a uma bandeira de 40 anos de lutas. Ao exigir a atualização, os trabalhadores do campo só estão exigindo o cumprimento da Constituição e a incorporação dos avanços científicos e tecnológicos aos métodos de medir a produtividade agrícola.


É contra essa bandeira que a bancada ruralista do Congresso reage e ataca o MST. Como represália, buscam mais uma vez articular uma CPI contra o MST. A terceira em cinco anos.


Se a agricultura brasileira é tão moderna e produtiva, como alardeia o agronegócio, por que temem tanto a atualização desses índices? Por que nunca foi criada uma CPI para analisar os recursos públicos destinados à classe patronal rural?


Seria possível responder a algumas perguntas tão simples como: O que ocorreu ao longo desses 40 anos no campo brasileiro em termos de ganho de produtividade? Quanto a sociedade investiu para que uma verdadeira revolução tecnológica tornasse a agricultura capaz de alimentar nosso povo e se afirmar como uma das maiores exportadoras de alimentos? Quantos perdões da dívida agrícola foram oferecidos pelos cofres públicos aos grandes proprietários de terra?


O ataque ao MST extrapola a luta pela reforma agrária. É um ataque contra os avanços democráticos conquistados na Constituição -como o que estabelece a função social da propriedade agrícola- e contra os direitos imprescindíveis para a reconstrução democrática. É, portanto, contra isso que se levantam as lideranças do agronegócio e seus aliados.


E isso é grave. É uma ameaça não só contra os movimentos dos trabalhadores mas também contra toda a sociedade. É a própria reconstrução democrática do Brasil, que custou os esforços e mesmo a vida de muitos brasileiros, que está sendo posta em xeque e violentada.


É por essa razão que se arma uma nova ofensiva dos setores mais conservadores da sociedade contra o MST - no Congresso, nos monopólios de comunicação e nos lobbies de pressão nas esferas de poder. Trata-se de criminalizar um movimento que se mantém como uma bandeira acesa, inquietando a consciência democrática do país: a nossa democracia só será digna desse nome quando incorporar todos os brasileiros e lhes conferir, como cidadãos, o direito a participar da partilha da riqueza que produzem ao longo de suas vidas, com suas mãos, talento e amor pela pátria de todos nós.


Fonte: IHU-Instituto Humanitas Unisinos


domingo, 20 de setembro de 2009

Morre aos 82 anos ex-jogador corintiano Idário

O Corinthians divulgou uma nota oficial na última sexta-feira (18/set), em seu site, manifestando seu pesar pela morte do ex-jogador Idário Sanches Peinado. O ex-atleta do clube do Parque São Jorge tinha 82 anos, lutava contra problemas respiratórios e estava internado em um hospital de Santos, no litoral paulista.

Revelado nas categorias de base do Corinthians, Idário teve sua primeira chance no time principal em 1949. "(Idário) era visto pela Fiel como um verdadeiro deus da raça", diz um trecho da nota do clube paulista.


Idário conquistou diversos títulos pelo Corinthians, como o Campeonato Paulista do IV Centenário, em 1954, contra o Palmeiras. os Estaduais de 1951 e 1952 e os Torneios Rio-São Paulo de 1950, 1953 e 1954.


O ex-jogador disputou 475 partidas com a camisa do Corinthians e marcou seis gols, no período de 1949 a 1959. Idário encerrou a carreira futebolística no Nacional Atlético Clube de São Paulo.


Ficha completa:

Idário
Nome Completo:
Idário Sanches Peinado

Nascimento:
07/05/27

Jogos:
468

Gols:
6

Títulos:
Campeonato Paulista (1951/52 e 1954) e Torneio Rio-São Paulo (1950 e 1953/54)

História:
Descendente de espanhóis, Idário Sanches Peinado (07/05/1927 – 18/09/2009) teve identificação imediata com a Fiel, logo que subiu do time de aspirantes, em 1949. Chamado de “Sangue Azul” e de “Sangre” (sangue, em espanhol), para as torcidas adversárias era considerado um carniceiro. Mas, para os corinthianos, foi um verdadeiro deus da raça.

Idário se superava pela valentia, insuflado pelos gritos que vinham das arquibancadas. “Pega ele, Idário”, pedia a massa, colada ao alambrado do Pacaembu. E ele ia lá e pegava, a bola ou o adversário. Em seus 468 jogos pelo alvinegro do Parque São Jorge, marcou época. Foram 290 vitórias com o manto, 101 empates e apenas 77 derrotas. Conquistou seis títulos pelo Timão, entre eles a histórica campanha no Paulistão de 1954, do IV Centenário da fundação da cidade de São Paulo.

No final da carreira, brigado com o técnico Sylvio Pirillo, deixou o Timão e passou rapidamente pelo Nacional da capital.
Fontes: Portal Terra e Corinthians.com.br

Giordano Bruno 1548-1600


Giordano Bruno nasceu em Nola, perto de Nápoles na Itália. Ele tornou-se religioso dominicano e estudou a filosofia aristotélica. Atraido pelo pensamento não ortodoxo, Bruno logo teve que deixar Nápoles, em 1576, e Roma, em 1577, para escapar da "Santa Inquisição". Ele foi então para a França, onde viveu até 1583. Depois mudou-se para Londres onde permaneceu até 1585.

Bruno estava vivendo em Londres quando conheceu o livro de Thomas Digges. Ele prontamente adotou as ideias ali contidas, que falavam de um universo sem contorno, e voltou sua atenção para a conclusão lógica, previamente mostrada por Nicolau de Cusa, de que o universo também não possui centro.

Giordano Bruno procurou desenvolver os ensinamentos de Copérnico de uma maneira filosófica. Seu maior trabalho foi divulgar, com veemência, essas ideias. Giordano foi um forte crítico das doutrinas de Aristóteles e Ptolomeu tornando-se um dos grandes defensores das teorias de Demócrito e Epicuro.

Ele rejeitava os ensinamentos de Aristóteles que diziam que o universo era finito, Ele também criticava a ideia de que havia um centro absolutamente determinado no universo. Giordano Bruno deve ser considerado o principal representante da doutrina do Universo descentralizado, infinito e infinitamente povoado. Ele não só a apregoou em toda a Europa Ocidental com o fervor de um evangelista como foi o primeiro a formular sistematicamente as razões pelas quais ela, mais tarde, foi aceita pela opinião pública.

Giordano Bruno escreveu vários livros:

  • Candelaio (1582)
  • De umbris idearum (1582)
  • Cena de le Ceneri (1584)
  • De la causa, principio e uno (1584)
  • De l'infinito, universo e mondi (1584)
  • Spaccio de la bestia trionfante (1584)
  • De gli eroici furori (1585)
  • De minimo (1591)
  • De monade (1591)
  • De immenso et innumerabilis (1591)

Em 1584 Giordano Bruno escreveu seus mais importantes trabalhos. No seu livro "La Cena de le Ceneri" Giordano Bruno apresenta a melhor discussão e refutação, escrita antes de Galileu Galilei, das objeções clássicas, sejam elas aristotélicas ou ptolomaicas, contra o movimento da Terra. Nesse texto ele defendia com ardor a teoria heliocêntrica.

No seu livro "De l'infinito, universo e mondi" ele afirma de maneira precisa, resoluta e consciente que o espaço é infinito. Ele também tem a ousadia de afirmar que movimento e mutação são sinais de perfeição e não de ausência de perfeição. Um universo imutável seria um universo morto. Um universo vivo tem de ser capaz de mover-se e de se modificar.

Segundo Bruno, como poderia o espaço "vazio" deixar de ser uniforme ou vice-versa, como poderia o "vazio" uniforme deixar de ser ilimitado e infinito? Do ponto de vista de Bruno a concepção aristotélica de um espaço fechado no interior do mundo é não apenas falsa, como absurda. Nesse livro, Giordano Bruno também afirma que o universo contém um número infinito de mundos, habitados por seres inteligentes.

As afirmações de Giordano Bruno eram avançadas demais para a época em que ele vivia. Ao contrário de Digges, Giordano Bruno não imergiu os corpos celestes nos céus da teologia: ele nada nos fala sobre anjos e santos. Isso era demais para ser tolerado.

Em 1591 Giordano Bruno mudou-se para Veneza onde foi preso pela Inquisição e julgado. Devido às suas declarações Giordano Bruno foi enviado para Roma, para um segundo julgamento, onde permaneceu preso em uma cadeia eclesiástica e foi continuamente interrogado até o ano 1600. Após ter sido torturado, e bravamente ter se recusado a se retratar das idéias que propagava, Giordano Bruno foi queimado vivo em uma praça pública no ano 1600 em Roma, Itália.

BRUNO, Giordano. Do imenso e dos inumeráveis [1591]

Os sentidos não nos elevam ao infinito nem favorecem o conhecimento que temos deles, uma vez que isso não lhes compete, mas estupidamente só a molestadora turba do Sofista [Aristóteles] poderá considerar que aquilo que se expressa pelos sentidos seja a verdade…


Age igualmente como insensato quem afirma que com os sentidos se pode demonstrar a limitação do universo, uma vez que para além da extrema órbita das estrelas fixas não existe nenhum corpo luminoso que eles possam indicar; como se alguém afirmasse que se pode identificar o limite de um bosque com os sentidos porque não se enxergam as árvores mais adiante.


Mas nós, ao contrário, dizemos que podemos perceber pelos sentidos a infinitude do universo, uma vez que os sentidos sempre deslocam o centro do horizonte para a periferia do horizonte e fazem dele seu companheiro inseparável: de modo a fazer que seja centro qualquer ponto da periferia (quando se tenha deslocado para a periferia).


Portanto, os sentidos ensinam que, se estivéssemos sobre qualquer outro astro, nós estaríamos, igualmente, no centro, e dali a Terra também pareceria encontrar-se sobre um ponto da circunferência…


O centro do espaço infinito pode ser determinado em qualquer lugar. De qualquer lado, efetivamente, se estende uma igual grandeza. É preciso, portanto, convencer-se de que o que paira sobre os corpos na natureza não é um limite, mas a harmonia da vida, contemplada pelos sentidos e pela alma que está neles…


Chamamos fixo um astro que brilha. Assim parecem, efetivamente, os corpos luminosos em relação aos planetas: mas quem conseguisse observar o seu corpo com olhar mais penetrante que o do vulgo poderia facilmente negar que, com exceção dos sete planetas, todos os outros mantêm uma distância igual da órbita sobre a qual se encontra o ponto de observação.


Compare, efetivamente, uma das estrelas menores com uma estrela da Virgem ou com qualquer grande estrela que esteja mais distante daquela: em diversos momentos a verás a distâncias diversas…


Dissolve-se assim a imagem de um céu que mantém fixas as suas estrelas com firmes liames e que arrasta em um único movimento todos os corpos celestes aos quais não seria permitido se mover por uma força interior mais do que é permitido se mover a um nó da madeira, se a madeira permanece parada. Portanto, considera finalmente de que modo se possa fender a atmosfera imutável (poder fendê-la está fora de nenhuma dúvida) e livra-te desses infelizes delírios dos Sofistas.


O espaço, portanto, é sulcado de modo a não resultar vazio é tampouco completamente cheio, e, na verdade, uma determinada substância preenche o espaço, é acessível a todos os corpos; nela, os corpos do mundo podem ser submetidos às leis eternas do movimento e da quietude.


A perfeição das coisas não foi oportunamente atribuída a este mundo pelos sentidos e pelas suas afirmações. Como puderam pensar que estivessem encerradas em um espaço limitado todas as coisas que, infinitas, podem acontecer em qualquer lugar, sempre em tão grandes e tão vastos espaços? Mesmo admitindo que exista um homem tão grande, dotado de um engenho igual ao da totalidade dos homens, o que impede que existam outros homens que participem da sua perfeição na ordem do gênero e nas partes da matéria que assim se difunde?


Fontes: Observatório Nacional e Mundus Est Fabula


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Nova capa do Digital Men!


Aê galera, já está pronta a capa do novo disco do Digital Men. A concepção de arte ficou por conta de Marco Jones que já tem vários trabalhos produzidos, é só conferir no blog dele!
Em breve as músicas estarão sendo disponibilizadas, assim que gravarmos tudo... por enquanto, fiquem com uma do nosso primeiro trabalho. Um abraço pra todos!!

Cena independente em atividade

Arte: Marco Jones

Dallas Dizus
se apresenta domingo, 20 de setembro de 2009 à partir das 14:30h. A banda tem entre seus integrantes o baixista do Digital Men, Marco Jones e promete sacudir a tarde de domingo. Trata-se do festival de bandas independentes, Rock Em Combustão, que será realizado no palco do Café Aurora, e por isso, o blog Da Boca Sai apóia totalmente esta e as outras bandas que tocarão lá no dia. Compareçam, apóiem a cena independente, pois ela é o futuro da música nacional!

Info:
DALLAS DIZUS
Rock em Combustão
Café Aurora - Rua 13 de maio, nº 112; Bixiga-São Paulo/SP.
20/set/2009
Preço: R$ 10,00

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Costa Rica quer deixar de ser um país católico

Os deputados da Costa Rica têm em mãos um projeto de reforma constitucional que poderia deixar a Igreja católica sem seu último Estado confessional na América Latina. O plano para converter esse pequeno país centro-americano em um Estado laico acendeu um intenso debate político que motivou inclusive um proeminente bispo a pedir que os fiéis não votem em fevereiro próximo em "candidatos presidenciais que neguem Deus e defendam princípios que vão contra a vida, contra o casamento e contra a família".

A reportagem é de Álvaro Murillo, publicada no jornal El País, 15-09-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O texto, redigido por um grupo civil chamado Movimento por um Estado Laico, entrou há duas semanas na corrente legislativa e, mesmo que nenhuma reforma constitucional na Costa Rica tarde menos do que um ano para ser aprovada, já se converteu em tema da campanha eleitoral. A modificação ao artigo 75 da Constituição Política, que completa seis décadas neste ano, recolhe o respaldo de congressistas de quase todos os partidos políticos representados no Congresso e do presidente Óscar Arias, cuja posição acabou preocupando as autoridades católicas costa-riquenhas.

Vários púlpitos serviram para intensificar a luta eclesiástica no âmbito político, seguindo os passos do bispo de Cartago (centro do país), sede da Basílica de Nossa Senhora dos Anjos, padroeira da Costa Rica. O prelado Francisco Ulloa advertiu que, "quando um Estado se torna ateu, é capaz de cometer as piores injustiças e as mais baixas aberrações. Disso a história é testemunha". Ao seu lado estava o representante do Vaticano, Pierre Nguyén Van Tot.

Fonte: IHU-Instituto Humanitas Unisinos e El País